Era um sonhador, daqueles que são capazes de pegar todo e qualquer broto da mais dura realidade e rega-la esperando brotar uma o universo almejado. Vivia sonhando com o dia em que todos os cuidados fizessem florescer um sorriso real naquela boca escancarada e cheia de dentes. Não era capaz de dormir, na verdade nunca tivera sido, nasceu assim, não dormia, apenas sonhava. E ao contrário do que cantarolava o poeta, sonhar acordado não o impedia de sentir dor. Tinha amor as causas perdidas, as ganhas nunca lhe pareceram interessantes. Quando a causa já estava ganha não havia com o que sonhar.
O desconforto era o combustível de seus sonhos, eles pareciam se alimentar do impossível. E quanto ao possível? Ah... o possível lhe causava fadiga. Não havia nada mais fadigante, do que aquilo que já existia sem antes ter sido sonho de alguém. Para ele, tudo precisava de uma pitada de sonho. As vezes uma mera gotinha já bastava. Algumas pessoas se incomodavam com o fato dele nunca dormir. Era frustrante saber que ele não padecia por falta de sono, e, ainda assim, vivia de sonho. Se alimentava de sonho, na esperança de ver florescer a realidade sonhada.
Até teve um Amor, mas com o passar dos anos esse Amor se cansou, e só queria viver ao lado de um sujeito normal. O sonhador que antes lhe inspirava, passou a lhe entediar. O que outrora era maravilhosa, já não tinha a menor sombra de maravilha. E na hora do ponto final, o impediu de deixar no ar qualquer ponto de interrogação, ou reticências, tinha a simples e ferina certeza de que era hora do fim (e como são tristes os fins...). E como se não bastasse, ainda lhe acusou de ser um sujeito normal que se refugiava naquele mundo de sonhos por um infantil e covarde medo da realidade.
Foi aí que ele acordou, percebeu que tudo tivera sido um sonho. Não conseguia dormir, por já estar dormindo. Levantou e se aprontou, na realidade ele não vivia de sonhos, precisava trabalhar. Enquanto escovava os dentes se encarava no espelho tentando encontrar aquele sonhador. Não encontrou! Conformado com seu papel de sujeito normal, foi trabalhar, pensando que o único sonho que o alimentaria seria aqueles que se compram na padaria.
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