Acordou, escovou os dentes e quase que mecanicamente foi executando seus afazeres, conforme planejado na noite anterior. Recebeu alguns convites, estranhamente as pessoas ainda lhe faziam convites, recusou os inesperados, mesmo aqueles bem atraentes. Odiava surpresas, elas eram capazes de causar-lhe uma instabilidade perturbadora. Precisava se preparar emocionalmente para as emoções que nunca chegara a sentir. Dizia "não" com uma suavidade assustadora, aos outros podia parecer antipatia, mas mal sabiam eles, era apenas medo. Medo disfarçado de coragem e travestido em segurança.
Ela se obrigava a fazer tudo conforme as regras daquele jogo que insistia em jogar sozinha. A sensação de estar no controle lhe era mais atraente que qualquer outra, talvez por não conhecer muitas outras. Toda aquela rotina de negação fazia parte do aluguel pago para permanecer na sua zona de conforto. Era o seu jogo e suas regras, parecia simples, mas era um jogo sem graça e sem vencedores.
Quando criança não pisava nas linhas da calçada. Então... Passaram se algumas primaveras e ela cresceu. Não! Não adianta tentar florear a história. Não foi assim que aconteceu. Não houveram primaveras e ela ao menos cresceu. Foram apenas invernos e ao invés de crescer ela simplesmente envelheceu seguindo aquelas regras infantis. E até hoje não conhece o prazer de pisar na linha.
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