Embora eu tenha várias questões em relação ao Óscar, uso algumas categorias como indicações de filme pra assistir. E foi assim que, no inicio do ano, assisti "Cinco graças". E, que surpresa boa! O filme se passa no início do verão em um vilarejo turco, Lale e suas 4 irmãs brincam no mar com os meninos. O que, surpreendentemente, acarreta em um escândalo de consequências graves. A casa das irmãs, que são órfãs e moram com a avó e tio, se torna praticamente uma prisão. E as irmãs começam a aprender a limpar, cozinhar e ser uma boa esposa, ao invés de ir para a escola. E seus casamentos começam a ser arranjados. Nesse cenário de repressão as cinco não deixam de desejar a liberdade, e tentando resistir, da maneira que é possível, aos limites que lhes são impostos.
Logo no início achei a esfera muito parecida com a de "Virgens suicidas". Então fiquei meio apreensiva, porque tinha simpatizado bastante com as cinco irmãs que protagonizam a trama, Sonay (İlayda Akdoğan), Selma (Tuğba Sunguroğlu), Ece (Elit İşcan),Nur (Doğa Doğuşlu) e Lale (Güneş Şensoy). Mas ao desenrolar da trama, foi só surpresa boa. Assim como "Virgens suicidas", "Mustang, cinco graças" se encaixa na categoria drama. Mas a maneira como a história é contada também me arrancou alguns risos. Em especial, relacionados ao temperamento da caçula das cinco irmãs, Lale. Que é de longe, a personagem mais cativante de toda a trama. Mas as cinco irmãs são personagens bem construídos e interessantes em suas particularidades.
O filme é muito bonito, forte e emocionante. Tem cenário e fotografia encantadores. As cenas são bonitas, com enquadramentos e focos que ajudam a contar a história. Uma história cruel, contada através de uma ótica encantadora. A interação entre as irmãs é muito profunda. Em algumas cenas chega a parecer que você está lá, é uma das irmãs. A cena inicial, um inocente, banho de mar das irmãs e alguns colegas de colégio, que é só uma brincadeira. Traz consequências irreversíveis a vida das irmãs, consequências estas, geradas por choque cultural, as irmãs sequer entendem o porque de demonizarem e as punirem em razão de uma simples brincadeira.
Cinco Graças é feminista, com questionamentos ímpares. Debate o casamento forçado, machismo, abuso físico, sexual e emocional protagonizado por homem que se apresenta como defensor da "moral e bons costumes", mas também apresenta adolescentes que mesmo com todas as regras que lhes são impostas, conseguem ser livres dentro de suas possibilidades, e também transgressoras da sociedade em que estão inseridas.
Conforme a história foi se desenrolando, percebi que não se tratava de um simples remake, como cheguei a pensar no inicio. Cinco Graças, traz questões diferentes, e aos meus olhos, mais interessantes que Virgens Suicidas. Enfim, recomendo o filme, até para os que não gostaram de Virgens suicidas.
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