Era um sonhador, daqueles que são capazes de pegar todo e qualquer broto da mais dura realidade e rega-la esperando brotar uma o universo almejado. Vivia sonhando com o dia em que todos os cuidados fizessem florescer um sorriso real naquela boca escancarada e cheia de dentes. Não era capaz de dormir, na verdade nunca tivera sido, nasceu assim, não dormia, apenas sonhava. E ao contrário do que cantarolava o poeta, sonhar acordado não o impedia de sentir dor. Tinha amor as causas perdidas, as ganhas nunca lhe pareceram interessantes. Quando a causa já estava ganha não havia com o que sonhar. O desconforto era o combustível de seus sonhos, eles pareciam se alimentar do impossível. E quanto ao possível? Ah... o possível lhe causava fadiga. Não havia nada mais fadigante, do que aquilo que já existia sem antes ter sido sonho de alguém. Para ele, tudo precisava de uma pitada de sonho. As vezes uma mera gotinha já bastava. Algumas pessoas se incomodavam com o fato dele nunca dormir. ...